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GABINETE DO REPRESENTANTE DA REPÚBLICA

 

PARA A REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES

 

SOLAR DA MADRE DE DEUS

 

ANGRA DO HEROÍSMO



INTERVENÇÃO DE SUA EXCELÊNCIA O REPRESENTANTE DA REPÚBLICA, EMBAIXADOR PEDRO CATARINO, NA SESSÃO SOLENE COMEMORATIVA DO 173º ANIVERSÁRIO DO CONCELHO DA POVOAÇÃO

 

 

7 DE JULHO DE 2012



Desejava em primeiro lugar agradecer ao Senhor Presidente da Câmara Municipal da Povoação, Dr. Carlos Ávila, o convite que teve a gentileza de me dirigir para participar nesta cerimónia solene.

 

Faço-o com o maior gosto e deixem-me dizer que é para mim um enorme prazer estar aqui convosco.

 

Permitam-me que felicite desde já o Senhor Presidente do Governo Regional pela distinção com que foi agraciado bem como o Senhor Professor Doutor Padre Octávio Medeiros e a Sociedade Filarmónica Marcial Troféu.

 

Desejava igualmente dirigir uma saudação afetuosa muito especial ao Dr. Carlos Melo Bento, meu estimado colega e contemporâneo na Faculdade de Direito de Lisboa, cuja presença aqui me faz recordar os belos anos da nossa juventude.

 

Senhor Presidente da Câmara,

 

Permita-me que saia do texto com que venho preparado para o felicitar pela sua intervenção. Em vez de fazer um discurso de circunstância, conceptual e distante da realidade, optou e muito bem por referir de forma direta e sincera as realidades  e factos concretos do seu município enumerando com clareza os problemas e os desafios com que se confronta no exercício da sua missão.

 

Queira saber, Senhor Presidente, que o escutei com toda a atenção e que não deixarei de fazer eco a quem de direito das suas palavras e das mensagens nelas contidas.

 

Eu próprio tenho defendido e ainda recentemente o fiz em declarações públicas que pronunciei, que deverá haver entre os órgãos governativos nacionais e regionais mais diálogo e melhor diálogo e que as funções do Estado na Região Autónoma dos Açores deverão ser prosseguidas conforme é dever não só constitucional mas também histórico e patriótico.

 

Qualquer alteração ao quadro existente deverá em minha opinião ser precedida por consultas prévias assegurando que o contexto e fatores em jogo sejam equacionados e considerados de forma adequada.

 

 

Minhas Senhoras e meus Senhores, caras e caros Povoacenses

 

Celebrações, como a que hoje tem aqui lugar, são muito importantes na vida das coletividades.

 

São rituais que não se esgotam no seu simbolismo, mas vão muito para além dos formalismos em que se traduzem. Elas têm efeitos práticos e uma repercussão concreta de significativa relevância.

 

Elas aproximam e congregam os seus habitantes para os consciencializar e lhes lembrar que são membros da mesma comunidade e que partilham uma História e passado comuns.

 

É assim no seio das cidades e das vilas como é assim no seio das famílias.

 

Esse passado comum inclui, no vosso caso, momentos de glória e sem dúvida o mais emblemático é ter sido exatamente na baía da Povoação que arribaram os primeiros portugueses que chegaram a esta ilha.

 

Foi um feito histórico, notável e extraordinário, de grande alcance e significado.

 

Os povoacenses, descendentes dos primeiros povoadores da Ilha de S. Miguel, podem orgulhar-se do facto de a Povoação ter sido um dos berços dos Açores.

 

São açorianos de gema. São o velho Portugal.

 

Os seus antepassados foram grandes homens e grandes mulheres que escreveram um capítulo brilhante da História do seu país.

 

Merecem todo o orgulho que possam sentir e a nossa admiração e respeito.

 

Mas não foram só momentos de alegria e exaltação que o passado reservou para os povoacenses.

 

Houve também momentos difíceis em que a destruição de bens e perdas de vidas assolaram tragicamente os habitantes desta terra.

 

A dor, o desespero e a desolação desabaram sobre a população com as cheias ocorridas em Novembro de 1896 e mais recentemente em Outubro de 1997, quando, também devido às cheias, na freguesia da Ribeira Quente 29 pessoas morreram. Permitam-me que invoque, neste dia e nesta ocasião, a sua memória, com carinho e veneração.

 

Foram dias de terror que a população corajosamente, heroicamente, estoicamente enfrentou e que fizeram tremer de ansiedade e temor todos os seus compatriotas.

 

São os bons e maus momentos que todos vós e os vossos entes queridos conjuntamente viveram, irmanados na partilha da alegria e da dor e solidários na expressão dos vossos sentimentos e afetividade, que fazem com que se sintam hoje com uma alma coletiva, como sendo parte da mesma comunidade e que se mantenham unidos, procurando melhorar as vossas vidas e o vosso futuro.

 

Não posso deixar aqui de referir também os povoacenses da diáspora, presentes no nosso espírito nesta ocasião de júbilo. Eles desempenham um papel importante, quer para os países de acolhimento onde alguns atingiram posições de relevo, quer para a terra natal, sua ou dos seus pais ou avós. 

 

Esta ligação à sua terra de origem constitui um quadro e uma referência essenciais nas suas vidas e um bem espiritual de enorme valor que contribui para a força do seu carácter e da sua individualidade e identidade próprias. Faço votos para que esta ligação se mantenha viva.

 

Minhas Senhoras e meus Senhores

 

Ninguém melhor do que os vossos autarcas tem consciência desse sentir coletivo e das aspirações e anseios que pulsam nos vossos corações.

 

São eles que estão mais próximos das populações dos seus municípios com quem se cruzam diariamente, vivendo o mesmo quotidiano.

 

São eles que melhor sabem das vossas dificuldades, que vos acompanham e que melhor vos conhecem também, quer os vossos pontos fortes, quer os vossos pontos fracos.

 

São eles finalmente que estão em melhor posição de pugnar pelos vossos interesses, contrabalançando quaisquer possíveis tendências para um centralismo nacional ou regional.

 

Num período de crise e grande incerteza como aquele em que atualmente vivemos o papel dos autarcas é duplamente importante na dinamização da vida económica, no estímulo às iniciativas privadas e na solidariedade e ajuda aos mais desfavorecidos e vulneráveis.

Também, permitam-me que o saliente, na proteção do ambiente e na melhoria da qualidade de vida, que só se consegue através da melhoria da educação dos mais jovens.

 

Minhas Senhoras e meus Senhores

Senhor Presidente da Câmara

 

A beleza das vossas terras é deslumbrante. A tranquilidade que aqui se respira é um tónico para o corpo e para a alma.

 

Olhar o mar do alto das montanhas não tem descrição.

 

O Vale das Furnas é um lugar mágico, um paraíso na Terra.

 

O Parque da Terra Nostra é um dos jardins mais maravilhosos que eu já visitei.

 

173 anos é uma bonita idade, que corresponde a uma longa caminhada de várias gerações.

 

Os povoacenses e Vossa Excelência, Senhor Presidente da Câmara, têm todas as razões para se rejubilarem e celebrarem mais este aniversário, com os olhos postos no futuro, mas valorizando e não esquecendo o passado.

 

Os meus sinceros parabéns a todas e a todos e os votos das maiores felicidades futuras.

 

Bem hajam.

 

Muito obrigado.

 


Pedro Catarino,

 

Povoação, 7 de julho de 2012