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GABINETE DO REPRESENTANTE DA REPÚBLICA

PARA A REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES

SOLAR DA MADRE DE DEUS

ANGRA DO HEROÍSMO

 

Discurso de Sua Excelência o Representante da República, Embaixador Pedro Catarino, por ocasião do
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas


10 de Junho de 2011



 

 

Reunimo-nos hoje aqui em Angra do Heroísmo para festejarmos o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Recém-chegado, é a primeira vez que vos acolho neste Solar da Madre de Deus como Representante da República para a Região Autónoma dos Açores.

É uma alegria e uma honra para mim e quero dirigir a todos uma saudação muito especial e agradecer muito sensibilizado a vossa presença.

Uma das minhas funções consiste em manter arvorados os símbolos da nossa Pátria comum e dar oportunidade a todos de se congregarem unidos, mantendo a identidade colectiva que nos tem permitido ir construindo uma nação, recebendo a herança dos nossos antepassados e transmitindo-a às gerações vindouras com o nosso contributo.

É pois neste dia simbólico, que aqui vimos, com a solenidade dos grandes momentos, manifestar o nosso orgulho numa História gloriosa de nove séculos.

Se pensarmos bem, é difícil acreditar como foi possível que um pequeno povo, com um território de reduzidas dimensões, sem riquezas nem grandes recursos próprios, tenha conseguido os feitos extraordinários que alcançámos, abrindo como pioneiros os oceanos, projectando a nossa acção e influência pelos 5 continentes, promovendo interacções entre diferentes culturas e civilizações, deixando marcas pelos 4 cantos do mundo e expandindo uma língua que é hoje uma das línguas globais.

Esta brilhante História, que foi moldando e determinando o carácter do povo português, foi por outro lado criando e desenvolvendo factores importantes que têm contribuído para a coesão do nosso país e para a afirmação de Portugal no mundo e para as suas potencialidades económicas.

Permitam-me que sublinhe que, através dos tempos, os Açores desempenharam sempre um papel na História de Portugal de marcada importância cultural e política. Como ponto de escala e abrigo nas viagens interoceânicas, na intervenção política em períodos conturbados da nossa História e como factor geoestratégico de grande relevância no contexto da 2ª. Guerra Mundial e das relações transatlânticas, os Açores nunca deixaram de ter um papel singular e bem significativo e de ser parte activa na nossa História comum.

Mas um país, no mundo de hoje, não vale apenas e sobretudo, pela sua História e pelo seu passado.

Vale pela sua capacidade económica, pela sua base industrial e tecnológica, pelo grau de desenvolvimento das suas escolas, universidades e institutos científicos, pela força das suas instituições, enfim pelo seu substrato social, com a sua coesão e estabilidade e o nível cultural do seu povo.

Nestes domínios ainda temos muito a fazer, particularmente tendo em atenção as presentes dificuldades com que nos debatemos.

Necessitamos para tal de um renovado esforço colectivo, concertado, coerente.

Necessitamos de desenvolver corajosamente reformas estruturais básicas e de eliminar de forma sistemática e radical as contradições que teimosamente persistem na nossa sociedade e que nos deixam confusos e, quantas vezes, perplexos.

Já superámos dificuldades de maior monta na nossa História. Tivemos um terramoto devastador em Lisboa em 1755. A cidade foi reconstruída e o país refez-se.

Não precisamos de ir mais longe. Aqui em Angra a terra tremeu em 1980. Reconstruiu-se o que foi destruído e a ilha é hoje mais aprazível do que nunca.

Fomos poupados à 2ª. Guerra Mundial que provocou horríveis provações. Não tivemos uma guerra civil, cruel e abominável, como a Espanha.

Os sacrifícios que teremos que fazer serão certamente duros e difíceis, sobretudo para as camadas mais modestas e vulneráveis. Mas nada comparáveis com os resultantes das guerras fratricidas e horrendas.

Todos devemos estar preparados para apertar um ou dois pontos os nossos cintos e aceitar um ajustamento dos nossos níveis de bem estar económico até que as nossas dívidas estejam pagas, as nossas contas estejam em ordem e as finanças públicas consolidadas e de modo a que possamos andar de face erguida e ter de novo o crescimento económico a que todos ambicionamos e pelo qual, estou certo, todos estamos prontos a fazer esforços acrescidos.

Exigimos sim – é um direito de qualquer cidadão que em democracia deve ser reconhecido e satisfeito – que tudo se faça com transparência, equidade e integridade.

Precisamos de manter a nossa confiança nos decisores políticos, guardar um ânimo forte e conservar a nossa esperança em melhores dias.

Todos teremos, individualmente, que fazer um esforço adicional.

Os que podem mais, devem dar mais. Todos devemos, solidária e equitativamente, dar o nosso contributo, sem subterfúgios ou quebra de coerência.

O dia de hoje é um dia em que invocamos o nosso passado e os heróis de ontem, para que nos possam inspirar para a nossa acção futura, unidos, coesos, respeitando-nos mutuamente e ajudando-nos uns aos outros, fraternamente, solidariamente.

É tradição que neste dia sejam impostas pelo Representante da República, em representação e em nome do Senhor Presidente da República, as insígnias das condecorações concedidas a cidadãos e instituições açorianas que se notabilizaram pelas suas actividades relevantes, públicas ou privadas, honrando os Açores e Portugal.

 Este ano cabe-me a subida honra de o fazer e quero desde já exprimir as minhas sinceras felicitações aos ilustres agraciados ou seus representantes.

Vamos aproveitar também o dia de hoje, no contexto e dentro do espírito do Ano Internacional das Florestas – 2011, conforme Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, para plantar no Jardim deste Solar uma ginjeira brava (Prunus Azorica) que ficará a assinalar a nossa participação na iniciativa e o nosso apoio à protecção do meio ambiente e à florestação da Ilha Terceira.

            Como muitas outras coisas que devemos fazer, só verdadeiramente veremos o resultado do nosso acto daqui a 10/15 anos, quando a árvore plantada atingir a sua maturação. Mas é desta forma, orientando as nossas acções numa perspectiva de longo prazo, que asseguraremos o futuro e a qualidade de vida das gerações que nos seguirão.

            Estaremos por outro lado a contribuir para uma das características que tornam esta maravilhosa ilha num destino privilegiado para todos os que amam a natureza e as belezas naturais.

            Ainda recentemente o National Geographic Magazine elegeu os Açores como um dos destinos mais atractivos do mundo para quem procura férias focadas na fruição da natureza e no que ela nos pode proporcionar.

            Apesar do meu pouco tempo nos Açores já me pude aperceber que esta é uma das vocações do arquipélago e fonte da sua riqueza.

            Quero agradecer à Chefe de Divisão do Serviço Florestal da Ilha Terceira, Engª Carla Nunes, e ao Eng Jorge Belerique pelo apoio que nos deram e que tornou esta iniciativa possível.

            Finalmente os meus sinceros agradecimentos aos nossos jovens membros dos coros, respectivamente: Coro de Jovens da Escola Básica e Secundária Tomás de Borba; e Coro Juvenil “Orvalho dos Açores”, da mesma escola.

            É um prazer ouvi-los. Merecem o nosso aplauso. Cantam muito bem e espero que continuem a fazê-lo pela vida fora.

            Muito obrigado ao Presidente do Conselho Executivo da Escola Básica e Secundária Tomás de Borba, Dr. Augusto Silva Oliveira e às professoras regentes dos coros: Senhoras D. Ana Paula Pereira e D. Yoroslava Rusal.

            A ambas os nossos parabéns pelo empenho e entusiasmo que põem no seu trabalho, que obviamente adoram.

            Termino, antes de passar à cerimónia da imposição das condecorações, com uma palavra sobre as gerações mais jovens, aqui representadas pelos Coros.

            O gosto pelo canto e pela música, que tanta importância têm para o desenvolvimento da nossa sensibilidade artística, constitui por outro lado um factor que contribui para a formação do nosso carácter.

            Deve portanto ser incentivado e verifico com agrado que nos Açores a música, tal como as artes plásticas e a literatura, são uma constante da vida dos Açorianos e não há freguesia onde não haja uma filarmónica e um ou dois poetas.

            É pois com a maior satisfação que vejo o entusiasmo dos nossos jovens cantores que merecem todos a nota de Muito Bom pela sua participação nesta cerimónia.

            Mas não é só o canto e a música que devemos incentivar nos jovens desde a tenra idade. É também o interesse pela leitura, o entusiasmo pelo desporto e pelas actividades ao ar livre, o gosto pelas artes, a educação cívica, a prática da solidariedade com os mais fracos ou desfavorecidos.

            É no fundo tudo o que dá qualidade e sentido à vida e conduz ao aproveitamento das potencialidades imensas, eu diria inesgotáveis, que cada ser humano encerra em si.

            Por isso não podemos desperdiçar uma só oportunidade de proporcionar a todas e quaisquer crianças, sem excepção, a melhor educação e as melhores condições para que possam desenvolver as suas potencialidades.

            Se assim não procedermos estaremos porventura a perder mais tarde o possível contributo para a sociedade, com grave prejuízo para o nosso país, de um futuro homem ou mulher com excepcionais dotes de inteligência ou sensibilidade artística, quiçá um génio.

            Também aqui devemos optar por políticas de longo prazo, apostando nos mais jovens a quem eu desejo dedicar este nosso Dia Nacional.

            É para eles que devemos construir o futuro que eles tomarão nas suas mãos um dia e assim sucessivamente.


Pedro Catarino

Angra do Heroísmo, 10 de Junho de 2011